COMO SABER SE TENHO COLESTEROL ALTO?


A hipercolesteronemia (colesterol alto) é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, frequentemente de forma silenciosa e sem sintomas evidentes. Embora o colesterol seja uma substância essencial para o funcionamento do corpo, quando em excesso, ele pode se acumular nas paredes das artérias, aumentando o risco de problemas cardiovasculares, como infarto e derrame. Neste artigo, abordaremos alguns pontos que vão lhe ajudar a saber se você tem colesterol alto.

O Que é o Colesterol e Qual Sua Importância?

    O colesterol é um tipo de gordura (lipídio) presente no sangue. Ele é essencial para várias funções vitais do nosso corpo. Entre elas, o colesterol desempenha um papel fundamental na formação das membranas das células, servindo como um “bloco de construção” que dá estabilidade e permite que as células se comuniquem e realizem suas funções. Além disso, o colesterol é indispensável para a produção de hormônios como estrogênio, testosterona e cortisol, que regulam desde o crescimento e o desenvolvimento sexual até a resposta ao estresse. Ele também é necessário para a síntese de vitamina D, que é essencial para a saúde óssea e o funcionamento do sistema imunológico.

O colesterol é produzido naturalmente pelo fígado, mas também é obtido através da alimentação, especialmente em produtos de origem animal, como carne, leite e ovos.

Tipos de Colesterol e Suas Funções

Existem dois tipos principais de colesterol que desempenham papéis distintos no organismo:

  1. Colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade): Conhecido como o “colesterol ruim”, o LDL transporta colesterol do fígado para as células do corpo. No entanto, quando há excesso de colesterol LDL, ele pode se acumular nas paredes das artérias, formando placas que dificultam o fluxo sanguíneo. Esse processo de acúmulo, chamado de aterosclerose, pode levar ao endurecimento e estreitamento das artérias, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
    • Imagine o LDL como um caminhão de entrega que transporta colesterol para as células. Quando há muitos caminhões (colesterol LDL) circulando, eles começam a “estacionar” nas paredes das artérias, tornando as estradas (artérias) mais estreitas e difíceis para a circulação.
  2. Colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade): Conhecido como o “colesterol bom”, o HDL tem a função oposta ao LDL. Ele “limpa” o excesso de colesterol, removendo-o das paredes das artérias e transportando-o de volta para o fígado, onde é processado e eliminado do corpo. Dessa forma, o HDL ajuda a reduzir o risco de entupimento das artérias e a proteger contra doenças cardiovasculares.
    • Pense no HDL como um caminhão de coleta de lixo que remove o colesterol acumulado das paredes das artérias e o leva de volta ao “centro de reciclagem” (o fígado). Quanto mais HDL houver no organismo, mais eficiente será essa “limpeza” das artérias, favorecendo uma circulação sanguínea saudável e reduzindo o risco de infarto e acidente vascular encefálico (AVEc)

Por Que o Colesterol Alto é um Problema?

    Quando há um excesso de colesterol LDL no sangue, ele tende a se depositar nas paredes das artérias, desencadeando um processo conhecido como aterosclerose. Ao longo do tempo, esses depósitos formam placas gordurosas que endurecem e estreitam as artérias, comprometendo o fluxo sanguíneo. Esse estreitamento dificulta a passagem do sangue, o que obriga o coração a trabalhar mais para bombear o sangue, aumentando o risco de hipertensão e, eventualmente, levando a eventos cardiovasculares graves, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). 

A aterosclerose também pode causar a formação de coágulos sanguíneos nas áreas onde as placas se rompem, bloqueando totalmente o fluxo de sangue para órgãos essenciais, o que aumenta ainda mais o risco de complicações potencialmente fatais.

IMAGEM DESTACANDO UMA ARTÉRIA NORMAL E OUTRA COM ATEROSCLEROSE

COMO SABER SE TENHO COLESTEROL ALTO?

O colesterol alto é uma condição frequentemente assintomática, sendo considerada uma “doença silenciosa”. Isso significa que muitos indivíduos podem ter níveis elevados de colesterol por anos sem apresentar sintomas evidentes, o que permite que a condição se agrave até provocar complicações mais sérias. No entanto, alguns sinais podem ser indicativos de colesterol elevado, especialmente quando há acúmulo de placas de gordura nas artérias:

Xantomas e Xantelasma

  • Xantomas: são pequenas lesões amareladas que se formam na pele, geralmente ao redor dos olhos, cotovelos, joelhos ou outras articulações. Elas são depósitos de colesterol visíveis e podem indicar níveis elevados dessa substância no sangue.
IMAGEM DE XANTOMAS PRESENTES NO JOELHO E MÃOS DE UMA CRIANÇA
  • Xantelasma: É um tipo específico de xantoma que se manifesta nas pálpebras. Essas manchas amareladas ao redor dos olhos são um sinal clássico de colesterol alto e podem surgir principalmente em pessoas com histórico familiar de hipercolesterolemia.
IMAGEM DESTACANDO A PRESENÇA DE XANTELASMAS NA REGIÃO PALPEBRA DE UMA  MULHER

Dor no Peito (Angina)

    O acúmulo de placas de gordura nas artérias coronárias pode restringir o fluxo sanguíneo para o coração, causando uma condição chamada angina. A angina é caracterizada por uma dor no peito que surge, em especial, durante esforço físico ou momentos de estresse. Embora possa ser confundida com outras condições, a angina é um sinal de que o colesterol elevado está prejudicando a circulação e aumentando o risco de doenças cardíacas.

Cãibras e Dormência nas Extremidades

    A má circulação, resultante do acúmulo de placas de colesterol nas artérias, pode causar cãibras, principalmente nas pernas. Esses sintomas podem se intensificar durante atividades físicas e são um possível indicativo de doenças arteriais periféricas, que ocorrem quando as artérias que levam sangue para os membros estão obstruídas. Além disso, é comum que pessoas com colesterol elevado relatem dormência ou formigamento nas mãos e nos pés devido à diminuição da circulação sanguínea.

Fadiga e Falta de Fôlego

    Quando o colesterol alto provoca o estreitamento das artérias, o fluxo sanguíneo é comprometido, o que obriga o coração a trabalhar com mais intensidade para bombear sangue e suprir o corpo com oxigênio. Esse esforço extra do sistema cardiovascular pode resultar em uma sensação de fadiga constante e falta de ar, mesmo durante atividades leves ou rotineiras. Esses sintomas são um alerta de que o colesterol elevado está sobrecarregando o sistema circulatório.

Alterações na Cor e Temperatura da Pele

    Em casos mais avançados, o colesterol alto pode impactar a circulação sanguínea a ponto de alterar a cor e a temperatura da pele, especialmente nas extremidades como dedos das mãos e dos pés. Com o fluxo de sangue reduzido, essas regiões podem se apresentar pálidas, arroxeadas ou com sensação de frio persistente. Essas mudanças ocorrem devido à insuficiência de oxigênio e nutrientes na área, sinalizando que o colesterol alto está comprometendo seriamente a saúde vascular.

Como Prevenir o Colesterol Alto?

    Prevenir o colesterol alto envolve adotar hábitos de vida saudáveis e realizar acompanhamento médico regular. Essas práticas não apenas ajudam a manter níveis saudáveis de colesterol, mas também promovem a saúde cardiovascular como um todo. Abaixo estão algumas estratégias eficazes:

  • Alimentação Balanceada: Adotar uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e fontes de gorduras saudáveis, como azeite de oliva, nozes e abacate, ajuda a reduzir o colesterol LDL (o “colesterol ruim”). Evitar alimentos ricos em gorduras saturadas e trans, como carnes processadas e frituras, também é essencial para o controle do colesterol. 
  • Prática de Exercício Físico: A atividade física regular — como caminhar, correr, nadar ou andar de bicicleta — ajuda a aumentar o colesterol HDL (o “colesterol bom”) e a diminuir o LDL. Exercícios de intensidade moderada a alta são especialmente eficazes na promoção de uma saúde cardiovascular robusta. A OMS recomenda realizar pelo menos 30 minutos diários por semana.
  • Abandonar o Tabagismo: O tabagismo diminui os níveis de colesterol HDL e contribui para o endurecimento das artérias, o que aumenta o risco de doenças cardíacas. Parar de fumar melhora a saúde arterial e apoia o aumento dos níveis de HDL, auxiliando na prevenção de aterosclerose.
  • Manter um Peso Saudável: Perder peso, quando necessário, pode reduzir significativamente os níveis de colesterol LDL. O controle do peso corporal está diretamente relacionado à melhoria dos níveis lipídicos no sangue e à diminuição do risco de complicações cardiovasculares.
  • Medicação, se Necessário: Em casos de colesterol persistentemente elevado, o médico pode prescrever medicamentos, como as estatinas, que ajudam a reduzir o LDL. Essas medicações são indicadas principalmente para pessoas com risco aumentado de doenças cardíacas ou com histórico familiar de colesterol elevado.

Conclusão

    O colesterol alto é uma condição comum e perigosa, frequentemente assintomática, que pode levar a graves complicações cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral. Por isso, é fundamental realizar exames de sangue regulares e estar atento a sinais como dor no peito, cãibras nas pernas, e xantomas (manchas amareladas na pele). Mudanças no estilo de vida, como uma alimentação equilibrada, prática de exercícios e abandono do tabagismo, aliadas ao acompanhamento médico, são fundamentais para manter o colesterol em níveis saudáveis e prevenir problemas no futuro.

REFERÊNCIAS UTILIZADAS

AMERICAN HEART ASSOCIATION. What your cholesterol levels mean. American Heart Association, 2023. Disponível em: https://www.heart.org/en/health-topics/cholesterol/about-cholesterol/what-your-cholesterol-levels-mean. Acesso em: 12 nov. 2024.
MEDLINEPLUS. Cholesterol. MedlinePlus, 2023. Disponível em: https://medlineplus.gov/cholesterol.html. Acesso em: 12 nov. 2024.MAYO CLINIC. High cholesterol – Symptoms and causes. Mayo Clinic, 2023. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/high-blood-cholesterol/symptoms-causes/syc-20350800. Acesso em: 12 nov. 2024.NIH – NATIONAL HEART, LUNG, AND BLOOD INSTITUTE. High blood cholesterol. National Heart, Lung, and Blood Institute, 2023. Disponível em: https://www.nhlbi.nih.gov/health-topics/high-blood-cholesterol. Acesso em: 12 nov. 2024.

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COLANGIOCARCINOMA: O QUE VOCÊ PRECISA SABER!
FÍGADO E SISTEMA BILIAR (FONTE: PIXABAY)

O colangiocarcinoma é uma neoplasia rara que acomete os ductos biliares. Esse tumor origina-se a partir da proliferação anormal do epitélio que reveste os ductos biliares, cuja função é proteger a parede ductal contra os efeitos lesivos da bile. Com base em sua localização, ele pode ser classificado em dois subtipos principais:

  • Colangiocarcinoma intra-hepático: localiza-se no interior dos ductos biliares intra-hepáticos cuja função é a drenagem da bile produzida pelos hepatócitos. Representa o tipo menos comum.
  • Colangiocarcinoma extra-hepático: localiza-se fora do fígado, nos ductos biliares maiores, que são responsáveis por conduzir a bile para o intestino delgado, onde ela auxilia na digestão de gorduras. Diferentemente do intra-hepático, esse tipo é significativamente mais frequente, correspondendo a cerca de 80-90% dos casos de colangiocarcinoma.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO?

A etiologia da maioria dos casos de câncer nos ductos biliares ainda não é completamente compreendida. No entanto, condições autoimune, como a colangite primária esclerosante, parecem aumentarem de forma significativa o risco de colangiocarcinoma. Outros importantes fatores de risco atualmente aceitos são:

  • Infecções crônicas do fígado: infecções causadas por parasitas que afetam os ductos biliares, como Clonorchis sinensis e Opisthorchis viverrini, parecem aumentar significativamente o risco de colangiocarcinoma. Essa associação provavelmente explica a maior incidência de casos dessa neoplasia em regiões da Ásia, onde esses parasitas são endêmicos.
  • Doença Intestinal Crônica: doenças intestinais crônicas, especialmente a retocolite ulcerativa (RCU), estão associadas a um aumento do risco de colangiocarcinoma. No caso da RCU, essa relação é particularmente significativa devido à sua conexão com a colangite esclerosante primária, uma condição frequentemente concomitante que também eleva o risco de desenvolvimento dessa neoplasia.
  • Exposição a agentes químicos específicos: a exposição a determinados agentes químicos, como compostos industriais ou substâncias tóxicas, tem sido associada a um maior risco de colangiocarcinoma. Foi relato o desenvolvimento de colangiocarcinoma após várias décadas em indivíduos expostos ao Thorotrast, um constraste muito usado anteriormente em exames de imagem.
  • Condições congênitas: alterações congênitas na estrutura da árvore biliar, como cistos no colédoco e doença de Caroli, são associados com risco de desenvolvimento dessa neoplasia.

Outras condições associadas ao colangiocarcinoma, todavia de forma menos comum, incluem os adenomas dos ductos biliares, papilomatose biliar e deficiência de alfa-1-antitripsina. Além disso, a obesidade pode ser um fator de risco.

Atualmente, acredita-se que os cálculos biliares, a hepatite viral crônica e a cirrose não parecem ser fatores de risco importantes para essa neoplasia.

SINTOMAS DO COLANGIOCARCINOMA

Os sintomas do colangiocarcinoma são inespecíficos e variam conforme a localização intra ou extra-hepática da neoplasia. Os pacientes com massas intra-hepáticas apresentam sintomas como perda de peso, falta de apetite, dor abdominal e mal-estar. Por outro lado, os pacientes com massas extra-hepática apresentam sintomas sugestivos de síndrome colestásica, como icterícia, urina escurecida (colúria), fezes esbranquiçadas (acolia fecal), dor abdominal e coçeira (prurido).

DIAGNÓSTICO DO COLANGIOCARCINOMA

O diagnóstico do colangiocarcinoma é pautado na história clínica e solicitação de exames complementares.

  • Exames Laboratoriais: os níveis de bilirrubinas encontram-se aumentados, em especial a fração conjugada (i.e direta) refletindo a síndrome colestática, bem como os níveis de fosfatase alcalina (FA) e gamma-glutamyltransferase (GGT). No entanto, na fase inicial, a função hepática (p.ex.: albumina e tempo de coagulação) e as enzimas apresentam níveis normais.
  • Marcadores Tumorais: os principais marcadores tumorais utilizadas para o diagnóstico do colangiocarcinoma são o CEA e o CA 19-9. Um nível sérico de CA 19-9 superior a 100 U/mL (valor normal < 40 U/mL) apresenta 75% de sensibilidade e 80% de especificidade para identificar pacientes com colangite esclerosante primária (CEP) que possuem colangiocarcinoma. Essa neoplasia não produz alfa-fetoproteína.
  • Exames de Imagem: normalmente uma ultrassonografia de abdômen ou uma tomografia computadorizda é inicialmente solicitada seguido por alguma modalidade de colangiografia. Os achados normalmente incluem dilatações dos ductos biliares ou presença de lesões na região hilar.

TRATAMENTO

A ressecção cirúrgica completa é a única terapia capaz de oferecer uma chance de cura para o colangiocarcinoma. No entanto, muitos pacientes são diagnosticados em estágios nos quais a doença é irressecável.

Medidas adicionais de tratamento para o colangiocarcinoma incluem:

  • Colocação de stents: para aliviar obstruções dos ductos biliares.
  • Terapia fotodinâmica (PDT): uma abordagem baseada em luz para destruir células tumorais.
  • Radioterapia: utilizada para controle local da doença ou como parte de um tratamento paliativo.
  • Farmacoterapia: incluindo quimioterapia sistêmica e tratamentos direcionados.

No contexto de cuidados paliativos, o bloqueio do plexo celíaco por meio da injeção regional de álcool ou outros agentes esclerosantes pode aliviar a dor na região lombar média, frequentemente causada pela infiltração tumoral retroperitoneal. Além disso, outras formas de paliatividade endoscópica, como braquiterapia e ablação por radiofrequência, também podem ser empregadas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O colangiocarcinoma, apesar da melhoria nas técnicas de tratamento, apresenta um prognóstico reservado, com uma sobrevida de aproximadamente 6 meses após o diagnóstico.

REFERÊNCIAS UTILIZADAS
  • Saha, S. K., & Mukherjee, P. (2024). Cholangiocarcinoma. Medscape. Retrieved December 13, 2024, from https://emedicine.medscape.com/article/277393-overview
  • Brindley PJ, Bachini M, Ilyas SI, Khan SA, Loukas A, Sirica AE, Teh BT, Wongkham S, Gores GJ. Cholangiocarcinoma. Nat Rev Dis Primers. 2021 Sep 9;7(1):65. doi: 10.1038/s41572-021-00300-2. PMID: 34504109; PMCID: PMC9246479.
  • Buckholz AP, Brown RS Jr. Cholangiocarcinoma: Diagnosis and Management. Clin Liver Dis. 2020 Aug;24(3):421-436. doi: 10.1016/j.cld.2020.04.005. Epub 2020 May 29. PMID: 32620281.